quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Marmita

Essa história aconteceu a um certo tempo, mas eu lembrei que nunca contei aqui. Foi a uns 4 anos atrás, mas me lembro de cada detalhe...


Voce, acordou belissima mente cansado e cedo pra preparar a "maumita" pro trabalho, as 6h30 da manhã toma seu banho de sais naquela ducha Lorenzetti zúpercrácica e bota a roupa e a maquiáji e vai confiante.
Obviamente que seu motorista de ônibus te leva ao seu destino groriozo e voce fica ali com seu mp4 escutando uma musica bate-cabelo enquanto dubla e mexe as mãos toda trabalhada na Versace Renner e super tranquila enquanto divide sua beleza junto com aquelas pessoas naquele espaço o braço que voce levantou a 30 minutos ainda não conseguiu descer de tão cheio que o ônibus estava quando você escuta um barulho seco de algo que caiu....

(todos os movimentos param)

...você está linda, no seu mp4 incólume quando começa a perceber que as pessoas te olham.
- Que seria? Perderam o c* na minha testa?
imagina, quando sente que a sacola de papel que segurava está mais leve que o normal e resolve conferir.
Eis que soam as tombetas do Apocalipse...

(o céu se fecha e você escuta as tombetas e uma das bestas dizendo: "Eis que seu mundo desabará...")

...a "maumita" devidamente disfarçada numa sacola de grife, estava digamos, um pouco gelada, o que fez com que a sacola se abrisse e ela caindo, bem NO MEIO do corredor, ficasse ali, exposta, gritante, vociferante, no chão, para todo o ônibus ver.
Voce olha por alguns segundos, aquela sacola de grife sem fundo, de onde se pode ver o chão do ônibus e desolada fica sem saber como agir: Abaixo e pego? Não será uma humilhação?
Faz aquele raio-x do ambiente e ve que TODOS, ABSOLUTAMENTE TODOS estão olhando pra você.
Voce se sente o Obama pronunciando pra uma platéia de 1 milhão de pessoas que faz a chuca diariamente.
O glamour que você demandou décadas pra construir, foi pro ralo pelo fundo de uma sacola de papel junto com a sua marmita.
Nessa hora, não importa o quanto mais chique você possa estar, NADA vai desfocar o vexame desta cena.
Pensei em simular uma taquicardia, um AVC, ou simplesmente acionar a saída de emergência do ônibus e pular a janela, mas acho que nada disso poderia tirar o choque da minha imagem da maldita queda da Bastilha marmita. E ali, onde cada segundo, equivalia a milênios eu me abaixei e peguei o objeto de vergonha (a marmita) de volta e coloquei na mochila que caregava nas costas.
Juro que quando eu fiz aquela cena e vi as pessoas me acompanhando com o olhar, a vontade que eu tinha era a de me picotar toda com um alicate de unha só pra que testemunhassem algo mais pavoroso do que aquele que eu provoquei.
E ali, enquanto eu abria a bolsa pra colocar aquela porra a marmita dentro da bolsa acompanhada pelo olhar ávido de sarcasmo dos passageiros eu vi que ali, eu estava abandonada pela sociedade. Me senti só. Vazia.
Após concluir isso, coloquei meu mp4, dei sinal e desci no próximo ponto, mesmo sem ser o meu, com a decisão de NUNCA MAIS pegar aquela linha de novo.
NUNCA MAIS ok?

Wherever.

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